quarta-feira, 28 de dezembro de 2011

A eterna contradição humana


Sentado no meu transporte público - ônibus -, pus-me a observar o comportamento dos passageiros e reparei que sempre procuravam alguma coisa para se entreter e olhar durante a viagem, como se vivessem em um constante processo de mudança, de busca pelo novo, de algo exótico. Quando de repente todos se levantam para verem um carro que havia naquele instante batido em uma motocicleta. E em vez de olhar para o acidente fiquei reparando nas expressões esboçadas por eles. Agiam como se aquilo fosse mudar a vida monótona estabelecida dentro daquele coletivo anteriormente e olhavam com um ar de curiosidade, esse como quem acha o novo algo a ser visto de forma primordial e digno de ser seguido. Logo me veio a mente as palavras de um professor de física que ficava citando nomes de físicos importantes e o que eles falavam em suas conferências. Bom, lembrar quem são esses físicos eu não lembro, mas o professor falava que uma vez perguntaram a um desses físicos como prosseguia o ramo da física e seus estudos e ela havia respondido: "Vivo entre coisas novas e boas, as coisas novas não são boas e as boas não são novas". E me serviu de reflexão sobre o comportamento humano, que sempre busca o novo como algo bom e nem sempre é, usam disso "para não ficar diferente dos outros", mas essa igualdade não faz sentido quando se pensa inconscientemente sobre os rumos que as coisas novas irão lhe levar. O bom mesmo é seguir aquele novo que tem um gostinho de velho, nostálgico e somador. Para que quando enxergares onde chegastes não queiras achar trigo onde plantaste feijão.
Acerca desse tema já escrevi em 26/02/2007 algo a respeito, que se segue e sigo a me citar:

"O sofrer imortal

Nas contradições vivemos intensamente
Por que quando nascemos já estamos morrendo
O amar é um sofrimento impertinente
Sigo a sofrer e nesta morte estou vivendo" 
O amor retratado é sim uma forma de contradição, onde seus altos e baixos trazem a verossimilhança da vida, onde se cultiva coisas boas em alguns momentos e ruins em outros e sempre estamos em busca pela fusão dos mesmos, na incensante contradição, ora nos contentamos com coisas boas e as ruins são postas em prática para ser o fio da balança no comportamento humano. Machado de Assis no conto A Igreja do Diabo nos mostra algo sobre isso, onde os humanos foram influenciados para seguir o diabo e o mesmo fundar sua igreja, mas viu logo que os humanos que começaram a lhe seguir já voltavam para a doutrina católica:

"A PREVISÃO do Diabo verificou-se. Todas as virtudes cuja capa de veludo acabava em franja de algodão, uma vez puxadas pela franja, deitavam a capa às urtigas e vinham alistar-se na igreja nova. Atrás foram chegando as outras, e o tempo abençoou a instituição. A igreja fundara-se; a doutrina propagava-se; não havia uma região do globo que não a conhecesse, uma língua que não a traduzisse, uma raça que não a amasse. O Diabo alçou brados de triunfo.  
Um dia, porém, longos anos depois notou o Diabo que muitos dos seus fiéis, às escondidas, praticavam as antigas virtudes. Não as praticavam todas, nem integralmente, mas algumas, por partes, e, como digo, às ocultas. Certos glutões recolhiam-se a comer frugalmente três ou quatro vezes por ano, justamente em dias de preceito católico; muitos avaros davam esmolas, à noite, ou nas ruas mal povoadas; vários dilapidadores do erário restituíam-lhe pequenas quantias; os fraudulentos falavam, uma ou outra vez, com o coração nas mãos, mas com o mesmo rosto dissimulado, para fazer crer que estavam embaçando os outros. 
(...)
Pôs os olhos nele, e disse:  
- Que queres tu, meu pobre Diabo? As capas de algodão têm agora franjas de seda, como as de veludo tiveram franjas de algodão. Que queres tu? É a eterna contradição humana." 
Isso mostra que os humanos procuram sempre algo novo para se identificar e passa, quase sempre, de forma efêmera, como as modas de carnaval que são sucesso e todos seguem e na semana santa não lembram mais o que tanto ocupava a mente deles. Aplica-se também nos esteriótipos femininos, onde se "empanturrar" de hormônios e silicone é usado como padrão de beleza, aquelas mulheres enormes e "bem encorpadas", que seguem essas modinhas e não tem o que pensar. Mas o pior de tudo são os homens que buscam isso. Portanto, mais do que mil mulheres malhadas vale uma pessoa que pensa e sabe chamar atenção de outra forma sem ser com a capa que reveste e sim com o conteúdo, que não se vende, não se empresta e, principalmente, não se copia. Portanto, seja você mesmo e não ache que os outros são donos do seu livre arbítrio. 

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